Adiamento da Nova NR-1: Como Sua Empresa Deve Agir


A Nova NR-1 representa uma mudança significativa na forma como as empresas devem abordar a gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. No entanto, apesar do adiamento para maio de 2026, o tema não pode mais ser ignorado.
Por essa razão, este artigo se propõe a explicar, de maneira aprofundada, por que sua empresa deve agir agora — não apenas para atender futuras exigências legais, mas também para garantir o bem-estar dos colaboradores e a sustentabilidade do seu negócio. A seguir, você terá acesso aos seguintes temas:
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- Exigência legal x gerenciamento estratégico;
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- Desvendando os riscos psicossociais na Nova NR-1: ameaças reais ao bem-estar e à produtividade;
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- Nova NR-1 e Portaria MTE nº 765/2025: o que muda?;
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- O imperativo de agir agora: Benefícios tangíveis da gestão proativa de riscos psicossociais;
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- Cuidando de quem cuida da sua empresa: O impacto positivo na saúde mental dos colaboradores;
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- Conclusão: O futuro do trabalho é psicologicamente seguro.
Exigência legal x gerenciamento estratégico
A saúde mental emergiu como uma pauta incontornável no mundo corporativo contemporâneo, especialmente no Brasil. O bem-estar dos colaboradores deixou de ser um tema secundário para se tornar um pilar estratégico para o sucesso e a sustentabilidade de qualquer organização.
Por que o adiamento da Nova NR-1 não deve paralisar as empresas
Nesse contexto, a discussão sobre os riscos psicossociais no trabalho ganha uma relevância sem precedentes. Embora a obrigatoriedade formal da inclusão desses riscos no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), previsto na Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), tenha sido recentemente adiada pela Portaria MTE nº 765, de 15 de maio de 2025, o adiamento da NR-1 não deve ser visto como um motivo para procrastinar ações.
Entenda os impactos reais do adiamento da Nova NR-1
O adiamento da Nova NR-1, que posterga a vigência da nova redação do capítulo 1.5 para 25 de maio de 2026, pode ser mal interpretado por algumas organizações como um sinal para adiar iniciativas essenciais. Contudo, essa visão é míope. Os problemas decorrentes dos riscos psicossociais, como absenteísmo, presenteísmo, queda de produtividade e alta rotatividade de talentos, já são uma realidade custosa para muitas empresas.
Como transformar o adiamento em uma oportunidade estratégica
Portanto, esse período adicional, gerado pelo adiamento da Nova NR-1, não deve ser encarado como uma pausa, mas como uma valiosa janela de oportunidade. As empresas que utilizarem esse tempo para planejar e implementar proativamente programas de gestão de riscos psicossociais colherão vantagens competitivas significativas, melhorando o bem-estar de suas equipes e fortalecendo sua marca empregadora antes que a obrigatoriedade formal se instale.
Gerenciar riscos psicossociais é um investimento no presente
Este artigo demonstra que gerenciar os riscos psicossociais transcende a mera conformidade com futuras exigências legais. De fato, trata-se de uma decisão empresarial inteligente e estratégica, pois representa um investimento no capital humano que não apenas protege os colaboradores, mas também otimiza o ambiente de trabalho e, crucialmente, impulsiona resultados financeiros positivos desde já.
Desvendando os riscos psicossociais na Nova NR-1: ameaças reais ao bem-estar e à produtividade
Os riscos psicossociais no trabalho referem-se às interações deficientes entre o conteúdo e a organização do trabalho, a gestão empresarial, as condições ambientais e organizacionais, e, por outro lado, as competências e necessidades dos trabalhadores.
Dito isso, esses riscos podem surgir da concepção, organização e gestão do trabalho, bem como do contexto social e ambiental em que o trabalho é realizado.
A Fundacentro, em suas pesquisas, tem destacado que queixas como insônia, fadiga extrema, tensão constante, sentimentos de humilhação e experiências de assédio moral ou sexual são manifestações frequentes associadas a esses riscos no ambiente laboral.
Principais causas dos riscos psicossociais nas empresas
Os fatores que podem desencadear riscos psicossociais são multifacetados e interconectados, permeando diversas dimensões da vida laboral. Um estudo aprofundado aponta para uma extensa gama de causas, que podem ser agrupadas em:
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- Conteúdo do Trabalho: Tarefas monótonas, repetitivas, sem significado, com subutilização de competências ou pouca variedade.
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- Sobrecarga e Ritmo: Volume de trabalho excessivo ou insuficiente, pressão por prazos, ritmo imposto e alta demanda mental/emocional.
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- Horário de Trabalho: Turnos, trabalho noturno, horários inflexíveis, longos, imprevisíveis ou isolamento social.
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- Autonomia e Controle: Baixa participação nas decisões e pouca autonomia na execução das tarefas.
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- Cultura e Função Organizacional: Políticas e objetivos pouco claros, liderança deficiente, falhas na comunicação, falta de reconhecimento.
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- Relações Interpessoais: Isolamento, conflitos, falta de apoio social, assédio, discriminação, supervisão inadequada.
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- Papel na Organização: Ambiguidade ou conflito de funções, responsabilidades mal definidas ou inadequadas.
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- Desenvolvimento Profissional: Estagnação, falta de oportunidades, insegurança no emprego, baixos salários, condições precárias.
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- Conciliação Trabalho-Família: Dificuldade em equilibrar vida profissional e pessoal, falta de apoio organizacional.
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- Novas Contratações e Insegurança: Contratos precários, subcontratação, insegurança no emprego.
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- Intensificação do Trabalho: Carga crescente, aumento da pressão e competitividade.
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- Ambiente Físico Desfavorável: Ruído, temperaturas extremas, má iluminação, falta de conforto ergonômico, agravando o estresse.
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- Altas Exigências Emocionais: Necessidade de constante controle emocional ou exposição a situações desgastantes.
É crucial entender que esses fatores raramente atuam de forma isolada, interligando-se e potencializando-se, criando um cenário complexo de ameaças ao bem-estar. Essa natureza sistêmica exige abordagens de identificação e mitigação igualmente holísticas.
Impactos dos riscos psicossociais para colaboradores
As consequências da exposição prolongada aos riscos psicossociais para os trabalhadores são profundas e multifacetadas. Ou seja, vão muito além do impacto emocional imediato:
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- Saúde Física: O estresse crônico pode contribuir para problemas cardiovasculares, gastrointestinais, musculoesqueléticos e enfraquecimento do sistema imunológico.
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- Satisfação e Bem-Estar: Queda na satisfação com o trabalho e impacto negativo na qualidade de vida geral.
Portanto, ambientes de trabalho que negligenciam esses fatores tornam-se ambientes tóxicos, comprometendo diretamente a performance dos profissionais.
Impactos dos riscos psicossociais nas empresas: o custo oculto da negligência
A negligência com os riscos psicossociais impõe um fardo pesado às empresas. Dessa forma, se traduz em perdas tangíveis e intangíveis que comprometem não apenas a saúde dos colaboradores, mas também os resultados financeiros.
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- Absenteísmo e Presenteísmo: Colaboradores afetados faltam mais ou estão presentes com baixa produtividade.
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- Produtividade: Queda acentuada na produtividade individual e coletiva.
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- Rotatividade (Turnover): Aumento da rotatividade, gerando custos com demissão, recrutamento e treinamento, além da perda de conhecimento.
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- Custos Financeiros: Despesas médicas elevadas, custos de afastamentos, passivos trabalhistas e redução da lucratividade. A OMS estima perdas globais significativas devido à perda de produtividade por depressão e ansiedade.
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- Acidentes de Trabalho: Funcionários sob estresse estão mais propensos a erros e acidentes.
Desta forma, compreender essa relação de causas e consequências é o primeiro passo para reconhecer a urgência de gerenciar os riscos psicossociais como estratégia essencial.
Nova NR-1 e Portaria MTE nº 765/2025: o que muda?
A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) é central na legislação de segurança e saúde no trabalho no Brasil, estabelecendo diretrizes essenciais para o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). Além disso, a Portaria MTE nº 1.419, de 27 de agosto de 2024, aprovou a nova redação do capítulo “1.5 Gerenciamento de riscos ocupacionais” da NR-1. Com isso, essa alteração implicaria a obrigação formal de identificar, avaliar e controlar os riscos psicossociais, reforçando ainda mais a importância de uma gestão proativa e estratégica na proteção da saúde mental dos trabalhadores.
Contudo, a Portaria MTE nº 765, de 15 de maio de 2025, prorrogou o prazo para o início da vigência da nova redação do capítulo 1.5 da NR-1. Vale destacar que o novo prazo para adequação a essa obrigatoriedade específica sobre riscos psicossociais foi estendido para 25 de maio de 2026.
O adiamento da Nova NR-1 não diminui a importância dos riscos psicossociais. Pelo contrário, oferece tempo adicional para uma preparação qualificada. Mesmo com a prorrogação, a gestão desses riscos continua crucial e embasada por outras normativas. Sugere-se que as empresas utilizem esse período para iniciar ou aprimorar seus processos de identificação e avaliação de riscos psicossociais.
O tempo adicional concedido deve ser visto como uma oportunidade para as empresas:
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- Compreenderem as novas diretrizes com profundidade.
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- Revisarem e adaptarem seus processos internos de SST.
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- Implementarem as mudanças de forma estruturada.
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- Capacitarem seus profissionais sobre as novas exigências e melhores práticas.
A gestão de riscos psicossociais é complexa e, por vezes, subjetiva. Um prazo maior permite buscar conhecimento, desenvolver ferramentas de diagnóstico e implementar programas piloto, resultando em abordagens mais efetivas e sustentáveis.
O imperativo de agir agora: Benefícios tangíveis da gestão proativa de riscos psicossociais
A decisão de gerenciar proativamente os riscos psicossociais, mesmo antes da vigência da nova NR-1, ancora-se em argumentos éticos, responsabilidades legais já existentes e em um claro retorno financeiro e estratégico.
O argumento ético e a Responsabilidade Social Corporativa (RSC)
No cerne da questão, está o imperativo ético de preservar a saúde, a segurança e a dignidade dos trabalhadores. Por conseguinte, cuidar do bem-estar psicológico torna-se uma extensão natural dessa responsabilidade. Além disso, a gestão de riscos psicossociais é um componente essencial da Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Nesse contexto, empresas comprometidas com a saúde mental não apenas fortalecem sua imagem institucional, mas também atraem e retêm talentos, sobretudo entre as novas gerações, que valorizam cada vez mais ambientes saudáveis e humanizados.
Obrigações legais preexistentes (além da nova NR-1)
A responsabilidade legal das empresas pela saúde mental dos trabalhadores não surge apenas com a atualização da NR-1, visto que ordenamento jurídico brasileiro já oferece embasamento:
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- Constituição Federal de 1988: Assegura o direito à saúde e a um meio ambiente de trabalho sadio.
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- Código Civil Brasileiro: Pode embasar pedidos de indenização por danos morais e materiais decorrentes de condições de trabalho inadequadas.
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- Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): Artigos 157 e 200 estabelecem a obrigação de cumprir normas de segurança e medicina do trabalho.
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- NR-17 (Ergonomia): Já dispõe sobre a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. A gestão dos riscos psicossociais deve iniciar-se com a Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP) e, se necessário, com a Análise Ergonômica do Trabalho (AET).
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- Legislação Específica sobre Assédio: Leis e jurisprudência sobre assédio moral e sexual reforçam a responsabilidade das empresas.
A atualização da NR-1 catalisa a sistematização da gestão desses riscos, mas a responsabilidade legal já existe.
O Retorno Financeiro do Cuidado (O Business Case)
Investir na gestão de riscos psicossociais e na promoção da saúde mental é uma estratégia com retornos financeiros e operacionais:
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- Redução de Custos: Diminuição do absenteísmo e presenteísmo; menores custos com saúde, pois transtornos mentais são uma das principais causas de afastamento pelo INSS; redução da rotatividade.
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- Aumento da Produtividade e Engajamento: Colaboradores com boa saúde mental são mais focados, criativos e produtivos.
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- Retorno Sobre o Investimento (ROI) em Saúde Mental: Estudos internacionais demonstram que, para cada dólar investido em programas de saúde mental, o retorno pode ser superior a quatro dólares. No Brasil, a depressão, isoladamente, gera perdas de produtividade bilionárias.
Melhoria da imagem da marca empregadora (Employer Branding)
Empresas que cuidam do bem-estar psicológico constroem uma forte marca empregadora, essencial para atrair e reter talentos.
Redução de Acidentes de Trabalho
Saúde mental e segurança física estão conectadas, pois estresse e fadiga mental aumentam o risco de acidentes. Desta forma, a gestão eficaz dos riscos psicossociais contribui para a redução desses incidentes.
A inação frente aos riscos psicossociais representa um custo crescente. Por isso, a postura proativa é um investimento estratégico que gera valor financeiro, reputacional, humano e legal.
Cuidando de quem cuida da sua empresa: O impacto positivo na saúde mental dos colaboradores
Investir na gestão de riscos psicossociais é investir no maior ativo da organização: suas pessoas. Inclusive, os benefícios para a saúde mental e bem-estar dos colaboradores são vastos.
Redução de estresse, ansiedade e burnout:
Ambientes que mitigam riscos psicossociais veem uma diminuição em transtornos como estresse crônico, ansiedade e burnout. Por isso, suporte social, autonomia e desenvolvimento de resiliência atuam como moderadores importantes.
Aumento da satisfação, motivação e bem-estar geral:
Colaboradores que se sentem psicologicamente seguros e valorizados apresentam maior satisfação, motivação e engajamento. A percepção de cuidado genuíno fortalece o vínculo de confiança e lealdade. Além disso, recursos como apoio social e reconhecimento são preditores de bem-estar.
Promoção de um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional:
A gestão eficaz dos riscos psicossociais frequentemente envolve a revisão de práticas de carga de trabalho e flexibilidade, ajudando os colaboradores a alcançar um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Por isso, esse equilíbrio é fundamental para a saúde psicológica, resultando em menor estresse e maior qualidade de vida.
O investimento no bem-estar psicológico é um motor para o desempenho. Inclusive, funcionários mentalmente saudáveis são mais resilientes, criativos e produtivos, contribuindo para os resultados financeiros e uma cultura organizacional forte.
Conclusão: O futuro do trabalho é psicologicamente seguro
A mensagem central é clara: a gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho não é uma tendência passageira ou uma mera formalidade futura. É uma necessidade premente, uma responsabilidade ética e uma decisão estratégica inteligente que impacta diretamente a saúde dos colaboradores e a sustentabilidade dos negócios.
Por que o adiamento da NR-1 não deve ser uma desculpa para a inação:
O adiamento da plena vigência da nova redação da NR-1, estabelecido pela Portaria MTE nº 765/2025 para 25 de maio de 2026, não deve ser interpretado como um convite à inação, mas como uma janela de oportunidade para uma preparação consciente e robusta.
Os custos de ignorar os riscos psicossociais:
Ignorar os riscos psicossociais acarreta custos significativos – desde a queda de produtividade e o aumento do absenteísmo até o impacto na reputação da empresa e potenciais passivos legais.
Benefícios de investir em ambientes psicologicamente seguros:
Por outro lado, as organizações que proativamente investem na criação de ambientes de trabalho psicologicamente seguros colhem uma miríade de benefícios: colaboradores mais saudáveis, engajados e produtivos; redução de custos operacionais; fortalecimento da marca empregadora; e um alinhamento genuíno com os princípios da responsabilidade social corporativa.
Comece hoje: um convite à ação imediata:
Este é o momento para as empresas brasileiras olharem para além do calendário regulatório e reconhecerem o valor intrínseco de cuidar do seu capital humano. O adiamento da obrigatoriedade da Nova NR-1 deve ser utilizado para diagnóstico, planejamento, capacitação e implementação de medidas preventivas e de controle.
Não se trata apenas de evitar sanções, mas de construir um legado de cuidado, respeito e sustentabilidade.
Incentive sua empresa a agir agora:
Portanto, o chamado à ação é para agora. Incentive sua empresa a iniciar ou aprofundar sua jornada na gestão dos riscos psicossociais. Busque conhecimento, capacite suas lideranças, ouça seus colaboradores e, se necessário, procure o apoio de especialistas para desenhar e implementar estratégias eficazes.
Construir um futuro do trabalho onde a segurança psicológica seja tão prioritária quanto a segurança física não é apenas um ideal, mas um investimento no maior e mais valioso ativo de qualquer organização: suas pessoas.
O futuro começa hoje:
O futuro do trabalho é, e deve ser, psicologicamente seguro. E esse futuro começa hoje e depende de todos, inclusive você.